sábado, 4 de junho de 2011

Tribos urbanas: Emos


Como surgiu a tribo

Emos, abreviação de emotional hardcore, surgiram de um desmembramento do estilo musical "hardcore punk", ocorrido em 1985, em Washington, capital. 


Na metade da década de 1980, bandas desse estilo, como Bad Brains, Minor Treath e Faith no More, se apresentavam em grandes festivais e todas eram representadas pelo selo independente "Dischord Records". 

Esta gravadora foi de extrema importância para dar forma ao movimento da época. No entanto, os festivais começaram a tomar maior proporção do que a esperada e a música rápida, agressiva e de cunho político que produziam estava trazendo violência e inquietação para os shows que participavam. Um fato marcante exemplifica isso:

No verão de 1985, no show intitulado "Revolution Summer", da importante banda norte-americana Dead Kennedys um grupo de "Skynheads" tocou uma garrafa no palco, machucando um dos integrantes. No final do show, o vocalista Jello Biafra, revoltado, pulou do palco e brigou com o responsável, aumentando ainda mais a confusão.

Este acontecimento foi a gota d´água para novas bandas surgirem com um discurso que deixasse um pouco a política de lado, a fim de evitar toda essa violência. Ao invés de cantarem músicas como "Nazi Punks Fuck Off" (Dead Kennedys), bandas como Rites of Spring, Moss Icon e Embrace optaram por uma versão mais pessoal e introspectiva do punk, se apresentando em turnês menores e mais intimistas. 

Além disso, outras bandas já estabelecidas de hardcore punk, como 7 Seconds, Government Issue e Scream também aderiram a esta onda inicial do chamado "emocore", diminuindo o andamento das músicas, escrevendo letras mais pessoais e acrescentando influências do rock alternativo de então, reforçando ainda mais a tendência na época.

O estilo foi absorvido pela bandas americanas de punk rock, que o misturaram com vertentes "pop punk" e "indie rock", traduzido por bandas como Jaebreaker e Sunny Day Real Estate, no começo dos anos 1990.

Dos anos 1980 e 1990 até os dias de hoje, os emos foram então incorporando características de outras tribos até se tornarem um estilo de música e comportamento pop, que é o que conhecemos atualmente.



Estilo


O que é denominado emo dos anos 2000 para cá é um estilo com referenciais estéticos um pouco diferentes, adquiridos ao longo do tempo. A começar pelo fato de que enquanto a geração emocore dos anos 1980 estava mais preocupada com o som, a grande maioria dos emos de agora estão mais preocupados com o visual. 

Nos anos 1980, bandas com um estilo mais punk, como os Dead Kennedys, usavam jaquetas de couro, jeans rasgados, acessórios com tachas e All Star. Já o movimento dark, com o The Cure, primava pelos olhos, unhas e roupas pretas, franja no rosto e atitude andrógina e poser.

Em meados dos anos 1990, no Japão, surgiu o universo infantil e anime dos decoras (leia especial sobre esta tribo) e mais para o final desta mesma década, nos Estados Unidos, aparecem bandas punk rock debochadas e bem humoradas, como o Blink 182, que vestiam camisetas coloridas, bonés para o lado, bermudões e tênis quadriculados. 




Os emos que conhecemos hoje são soma de tudo isso. A maioria dos adeptos são jovens entre 12 e 19 anos e, por isso, geralmente, não tem muito poder aquisitivo, o que faz com que customizem suas roupas com patches, botons, joaninhas e laços. Para isso, cresce a oferta de produtos, desde estabelecimentos em grandes capitais como São Paulo (dezenas de lojas na Galeria do Rock) até cidades medianas como Porto Alegre, com duas importantes lojas: Back in Black e Short Fuse.



Anéis



Colares



Pulseiras



Outros



As meninas adoram tanto acessórios de lacinho, como de tacha (de preferência algum que misture os 2), além de meias listradas e saias plissadas. E assim como elas gostam de usar suspensórios, gravatas e bermudões, os meninos adoram camisetas curtinhas e calças justas.

Suas cores favoritas são preto, branco, rosa e roxo. Os cabelos são coloridos e com cortes assimétricos penteados com ceras e pomadas que dão o aspecto de desalinhado e espetado, assim como dos animes japoneses. Além disso, os emos usam e abusam de piercings e tatuagens.





Avril Lavigne tem uma marca chamada Abbey Dawn, que faz roupas voltadas para este universo. A última coleção que começou a ser vendida nas lojas Kohlno dia 5 de março é inspirada no filme "Alice no país das maravilhas", de Tim Burton. A trilha também tem participação dela.




Coleção inspirada no filme "Alice no país das maravilhas"






Comportamento


Os emos se relacionam com o mundo através da contemplação da melancolia e do vazio de expectativas. O que prevalece é a estética desse sentimento e a necessidade de ser compreendido e não uma tentativa de mudar o mundo. 

Sua proliferação no início dos anos 2000 foi diretamente ligada à ascensão de tecnologias como câmeras digitais e internet. Ferramentas como Orkut e MSN reforçaram o sentimento que tinham em relação a eles mesmos e à adolescência, ganhando uma causa coletiva. Eles também popularizaram o uso dos fotologs. Viviam se auto-fotografando e compartilhando com amigos. 

Mari Moon, que hoje é VJ da MTV, ficou famosa inicialmente através do seu fotolog, que era popular entre bandas e fãs do estilo. Um outro exemplo são as Suicide Girls, que ousaram ao serem os primeiros a mostrar a nudez de mulheres com cabelos coloridos, piercings e tatuagens.



É importante ressaltar que emo foi se tornando um termo pejorativo para muitas pessoas, mesmo que a grande maioria das bandas citadas não se define assim, mas como punk rockers ou hardcores, por exemplo. 

Emos já foram alvo de muito preconceito e chacotas, pois além do visual diferenciado, há também muitos homossexuais. Para se encontrar, eles usam lugares públicos, como galerias, praças e shoppings, onde podem ficar juntos e expor o visual que muitas vezes incomoda outras tribos.

Inclusive em 2006 a Galeria do Rock, em São Paulo, chegou a barrá-los. Como costumavam passar tardes inteiras, mas como não tinham o hábito de comprar, sua simples presença incomodava os demais visitantes. 



Bandas



Há também bandas americanas, como My Chemical Romance, caracterizadas por um estilo mais romântico, onde existe a presença forte do preto e da alfaiataria ou, até mesmo, a também americana Panic at the Disco, que adotou um visual emo glamouroso, mesmo fazendo um som mais indie pop.

Para onde vai?


A mais nova banda que tem representado essa tribo é a americana Tokio Hotel. Intitulados como "New Emo", eles tem características mais góticas, por isso usam muito mais preto e prata, ao invés de acessórios fofos e coloridos, misturado a uma atitude glam rock.

O emo, ao longo das décadas, foi incorporando e variando suas características, por isso provavelmente surgirão novas versões do estilo ao longo do tempo. O que sempre prevalece é o uso do preto e o gosto pela melancolia.



Referências


Making of da banda Fresno, para a revista Capricho.
Blog e livro Diário de Palco, ambos escritos por Gustavo Pelogia.
Dicas de visual emo.
Blog e página na revista Capricho, da MariMoon, hoje VJ da MTV.
Fontes: O tempo das Tribos, de Michel Mafessoli; e Dance of Days; de Mark Anderson e Mark Jenkins.

Fotos: ©Agência Fotosite, UseFashion e divulgação.
Fonta: www.usefashion.com.br

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